Para os Pais


A importância dos pais no estimulo à espiritualidade das crianças é fundamental. Contudo, muitas vezes, eles não sabem como e por onde começar. O projeto Brincando de Meditar busca desenvolver uma atmosfera favorável para o desenvolvimento da espiritualidade na relação entre pais e filhos. Os filhos podem meditar, independente dos pais realizarem essa prática contemplativa. Todavia, inúmeros estudos mostram a importância dos pais no desenvolvimento dos filhos. É comum os filhos imitarem os hábitos dos pais e assim ter pais meditantes torna-se um grande estimulo para a prática. O pensamento de René Girard (filósofo e historiador francês) baseia-se na premissa de que tudo, ou quase tudo, no comportamento humano é aprendido, e que o aprendizado resume-se a imitação (desejo mimético).

A meditação é uma excelente prática para resgatar a união familiar e conscientizar as crianças de seu papel no mundo. Todos sabemos que a criança é um “reflexo”do ambiente em que vive, consequentemente é importantissimo os pais dedicarem um tempo para essa prática em família.

Segundo reportagem da Revista Vida Simples, por Liane Alves, com o titulo Deus e Eu:

"A idéia que temos de Deus é formada na psique durante a tenra infância, dos 3 aos 7 anos, de acordo com o criador da Psicologia Analítica, o suíço Carl Gustav Jung.  Ele foi um dos primeiros investigadores da psique a se interessar por esse assunto. Jung chamava essa idéia primordial, ou arquétipo, de Imago Dei, imagem de Deus. Ele afirmava que essa imagem formada na infância continua a influenciar nossa vida, ainda que, quando adultos, digamos que deixamos de acreditar em Deus. [...]

E sabe como se dá o processo da formação da Imago Dei em nossa psique? Ela é construída a partir do acolhimento e do amor que tivemos de nossos pais. Portanto, afirmava Jung, Deus será, para nós, mais amoroso e próximo, ou mais rígido e distante, de acordo com o relacionamento que tivemos com nossos genitores. Há algum tempo fizeram uma pesquisa muito interessante: pediram para crianças de 5 a 6 anos de pequenos vilarejos do Leste Europeu para desenharem Deus. Elas viviam em lugares isolados e não foram expostas à mídia ou à influência de igrejas. O mais interessante é que todas fizeram os traços de Deus com aspectos ou qualidades de seus pais, diz o psiquiatra e psicanalista junguiano Luiz Geraldo Benetton. Pode-se dizer que pais amorosos e acolhedores nos ajudam a ter uma imagem mais positiva de Deus e que pais mais autoritários ou frios podem influenciar numa imagem mais punitiva ou distante."

A pesquisa foi feita em pequenos vilarejos do Leste Europeu, imagino como o cenário seria mais complicado se considerássemos as crianças que moram em grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Talvez a imagem de Deus, seria relacionada a alguém sempre atrasado, com uma lista enormes de tarefas a cumprir e conectado 24 horas por dia com seus Ipads, Iphones e outros dispositivos tecnológicos.

Robert Coles é professor de psiquiatria e ciências médicas no Harvard Medical School Health Services e autor dos livros The Spiritual Life of Children e Inteligência Moral das Crianças. Robert estudou a espiritualidade das crianças e em seus relatos é possível perceber a imensa abertura espiritual existente nas crianças. Além disso, reforça a importância dos pais na formação do caráter dos filhos por meio do que ele denominou "inteligência moral".

Para Coles:
"A inteligência moral não é adquirida apenas com a memorização de regras e regulamentos, por meio de discussões abstratas nas aulas ou da obediência às normas da casa. Crescer moralmente é uma consequência de como aprendemos a agir com os outros, a nos comportar nesse mundo, aprendizado que é facilitado quando levamos a sério o que vemos e ouvimos. A criança é uma testemunha sempre atenta a moralidade dos adultos - ou da fala dela; a criança procura o tempo todo sugestões de como se comportar e as encontra quando nós, pais e professores, cuidamos de nossas vidas, fazendo opções, dirigindo-nos às pessoas, mostrando na prática nossos valores, desejos e opiniões básicos e desse modo ensinando a esses jovens observadores muito mais do que imaginamos."

Apesar da grande importância dos pais como um exemplo a ser seguido é importante criar um espaço de liberdade para que a criança possa por ela própria descobrir sua experiência de Deus. Afinal, como diz José Saramago, os filhos são um empréstimos ou como diz Khalil Gibran, flechas vivas que lançamos no mundo.

"E uma mulher, que segurava um bebê no colo, disse: Fala-nos dos Filhos.
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas do desejo da Vida por si mesma.
Eles vêm através de vós, mas não de vós,
E apesar de estarem convosco, não pertencem a vós.

Podeis dar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,
Pois suas almas vivem na casa do amanhã, a qual vós não podeis visitar, nem mesmo em vossos sonhos.
Podeis esforçar-vos em ser como eles, mas não tentai fazê-los como vós.
Pois a vida não volta para trás, nem permanece no dia de ontem.
Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados.
O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e Ele vos dobra com o Seu poder para que Suas flechas possam ir longe e velozes.
Deixai que o Arqueiro vos curve com alegria;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que é estável."


( O Profeta - Khalil Gibran)

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